Caos em aeroportos de Portugal durará semanas e frustra férias de turistas
Os brasileiros que programaram viagens de férias ou de negócios para a Europa, em especial para Portugal, por meio da TAP, devem se preparar para um martírio. Desde o último fim de semana, uma onda de greves e de falta de pessoal e de aviões tem provocado um caos nos aeroportos, com vários cancelamentos de voos. Na capital portuguesa, a situação é pior, com a TAP liderando a suspensão de decolagens, perdendo malas e tratando com desrespeito os viajantes. O descaso é enorme, com funcionários irritadiços e a empresa não cumprindo obrigações básicas, como dar informações corretas aos passageiros e arcar com despesas de alimentação, transporte e hospedagem.
A brasileira Adriana Machado está, desde a última sexta-feira (1), tentando voltar de Lisboa para Recife. “Meu voo foi cancelado, marcaram um outro para o dia seguinte, e cancelaram de novo. Me jogaram para um voo de 8 de julho, mas eu não posso ficar em Lisboa até esse dia. Insisti e me jogaram para um voo hoje (segunda-feira), no final da tarde. Vamos ver se consigo embarcar”, contou. Segundo ela, a TAP não dá nenhuma satisfação para os transtornos, diz apenas que não há vagas nos voos. Nos dias a mais que ela ficou em Lisboa a companhia aérea não arcou com nenhuma despesa. “Não deu nenhum voucher, nenhuma alimentação, nem hotel, absolutamente nada”, afirmou.
A situação só não foi pior porque a mulher recorreu a parentes que moram em Portugal. “Perdi vários compromissos que tinha em Recife. O prejuízo foi enorme”, frisou ela, que promete entrar com processo contra a TAP. “O desrespeito foi total. Deixaram a gente sem as malas. Até agora estou sem as minhas, e não sei onde elas estão”, destacou. O atendente da TAP com o qual ela conseguiu falar depois de inúmeras tentativas lhe garantiu que as malas seguirão com ela no voo que a levará para o Recife. “Todos os meus amigos que tiveram os voos cancelados, mas conseguiram embarcar para o Brasil, não receberam as malas. Nós éramos 20 pessoas no mesmo voo”, ressaltou a brasileira, que não esperava por um final de férias “tão terrível”.
Revolta e desculpas
Diante do caos, a presidente executiva (CEO) da TAP, Christine Ourmières-Widener, reconheceu, em comunicado oficial, que os transtornos para os viajantes vão continuar por um bom período. “Neste momento, reconhecemos que não estamos oferecendo o serviço de excelência que planejamos e que queremos que experiencie conosco, face à crise que o transporte aéreo atravessa e que, de acordo com as previsões mais recentes, não deverá melhorar nas próximas semanas, fruto do aumento regular das viagens de lazer e de negócios”, escreveu. Ela pediu as “mais sinceras desculpas”. Desde sexta-feira, a TAP cancelou mais de 120 voos.
No que depender da francesa Valérie Lenager, pedidos de desculpas não serão suficientes. Ela disse que vai processar a TAP por ter impedido que ela, o marido, Laurent, e o filho, Nicolas, fossem curtir as férias no Marrocos. Os três embarcaram em Lyon, na França, com escala em Lisboa. Na hora do embarque, na cidade francesa, funcionários da TAP disseram que o filho poderia viajar apenas com o cartão de identidade. Mas, quando fizeram escala na capital portuguesa, foi exigido o passaporte do menino, que não estava com ele. Vão ter que retornar a Lyon levando na bagagem só frustração. “Enfim, perdemos mais de 4 mil euros (cerca de R$ 23 mil). Vou processar a empresa. É um absurdo”, afirmou.
A paulista Aline Vieira foi surpreendida com um e-mail da TAP informando que o voo dela previsto para esta segunda-feira (4) havia sido cancelado e remarcado para 6 de julho. “Não me deram opção nenhuma, não tenho onde ficar, não me deram acomodação. E tudo está muito caro. Uma noite num hotel não sai por menos de 200 euros (R$ 1.100)”, disse. Por ser do ramo da aviação, ela destacou que sabe que há outros voos para o Brasil. “Que que eles me reacomodem”, ressaltou, desolada, na fila de atendimento da companhia aérea, depois de várias tentativas de contato por telefone.
Aline viajou de férias para Lisboa. “A gente viaja com o dinheiro para este período, com alimentação e estadia. Agora, é complicado, não consigo arcar com dois dias a mais”, assinalou. Na opinião dela, a TAP poderia fazer mais por seus passageiros, mas fica numa situação cômoda de cancelar voos e deixar que as pessoas se virem. “Existem muitas opções. Como sou da área e sei como tudo funciona, conheço meus direitos”.
Máquinas quebradas
A desordem na TAP não perdoou o brasileiro Rogério Paixão. Mesmo ele tendo feito o check-in de sua viagem para Cancún, no México, e ter chegado com mais de uma hora de antecedência no aeroporto de Lisboa, não conseguiu embarcar porque a máquina que imprime as etiquetas de bagagens estava quebrada. Como ele teve de entrar na fila para fazer o procedimento que não levaria mais do que cinco minutos, perdeu o voo e, na melhor das hipóteses, só conseguirá embarcar no dia 6 de julho. “Fiz o check-in antecipadamente para facilitar tudo, na hora de fazer o despacho das malas, contudo, a máquina de etiquetagem estava quebrada. Além disso, ninguém orientava nada e as filas estavam enormes”, contou.
Se realmente quiser viajar, o brasileiro terá de pagar um adicional pela passagem, mesmo o erro não sendo dele. “Vi várias pessoas sendo prejudicadas pelo descaso”, enfatizou. Ele acrescentou ainda que vai perder várias diárias que já havia pagado no hotel em Cancún, o aluguel do carro, o transfer do aeroporto para o hotel e os passeios contratados. “Vou ficar no prejuízo”, reclamou. “Assim começou o meu primeiro dia de férias”, lamentou.
Felix Rosario e Raquel Fuentes também não se conformam com tanto transtorno. Os dois saíram de Miami, nos Estados Unidos, em direção a Veneza, na Itália, onde pegariam um cruzeiro. Mas a TAP cancelou o voo deles de Lisboa até o destino final. Não bastasse isso, a companhia aérea ainda perdeu suas bagagens. “Estamos desde as 5h da manhã de ontem (domingo, 3 de julho) tentando resolver isso, mas ninguém nos dá informação”, afirmou Felix. “Ninguém fez nada por nós. Ficamos sem nossas roupas e ainda pagamos hotel. Eu não vim para ficar em Portugal”, reclamou Raquel.
Para o brasileiro Paulo Rogério, não restará outra alternativa a não ser pagar pelo menos mais 300 euros (R$ 1.700) para retornar de Lisboa para a Bélgica. Ele está na capital portuguesa para fazer um tratamento dentário e o retorno para casa estava marcado para esta segunda-feira. “Deixei de viajar pela Ryanair, que está com sérios problemas por causa da greve de funcionários, para não ter qualquer transtorno. Optei pela TAP e deu no mesmo”, afirmou. Os problemas com a Ryanair estão se irradiando, sobretudo, por França, Holanda e Espanha, deixando passageiros revoltados.
Promessas descumpridas
A presidente da TAP tentou minimizar a grave situação jogando a culpa pelo calvário dos passageiros na pandemia do novo coronavírus. “Os últimos dois anos foram muito difíceis para todos nós, sobretudo para o setor da aviação comercial, extremamente penalizado devido à pandemia”, disse. Contudo, segundo ela, “todos os colaboradores da TAP Air Portugal têm trabalhado de forma resiliente e consistentemente na reconstrução da companhia e em ganhar novamente (a confiança dos viajantes)”.
“Este fim de semana não foi fácil para a TAP devido a constrangimentos vários”, afirmou, ressalvando que “só com o empenho e o esforço das equipas, tanto de terra quanto do ar, foi possível prestar o melhor serviço possível aos passageiros, levá-los ao destino e normalizar a operação”. E acrescentou: “Não há nada que todos queiramos mais do que levar Portugal ao mundo e trazer o mundo a Portugal já este verão. Esta é a nossa razão de existir, e é para cumprir esse objetivo que todos temos trabalhado nos últimos meses”, emendou Christine Ourmières-Widener.
A agência reguladora do setor de aviação de Portugal, a ANA Aeroportos, atribuiu os cancelamentos em série de voos a greves de funcionários de empresas aéreas, especialmente na Europa. Em Lisboa, especificamente, os problemas se agravaram a partir de sexta-feira (1º/7), quando um jato privado que levaria o ditador da Guiné Bissau, Umaro Sissoro Embaló, para Gana teve problemas e fechou as pistas do aeroporto por quase duas horas.
A CEO ressalvou, no entanto, que “ainda que as restrições à mobilidade de passageiros tenham sido levantadas na sua maioria, o transporte aéreo, bem como a respetiva estrutura e serviços complementares, enfrenta uma séria limitação de recursos a nível global, num momento em que as operações de voo passaram praticamente do zero para cerca de 90% dos níveis pré-pandemia”.
“Garantimos que a TAP e todas as nossas equipas estão empenhadas, neste momento, em minimizar ao máximo todo e qualquer inconveniente que possa surgir durante a sua jornada conosco, esperando contar com um transporte aéreo mais robusto, funcional e articulado no verão de 2023”, disse a CEO.
“Agradecemos, como sempre, a sua fidelidade e esperamos contar também com a sua compreensão, caso a sua viagem não tenha ido ainda ao encontro das suas expectativas. Estamos a fazer o nosso melhor para voltar a proporcionar-lhe a qualidade, a pontualidade e a confiança que merece e que certamente terá da TAP Air Portugal, o mais rapidamente possível”, rematou a CEO da transportadora.
crédito: Vicente Nunes/CB/D.A. Press
Por Correio Braziliense