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Influenciadoras usam redes para orientar mulheres com fobia de gravidez

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“Engravidei mesmo sendo virgem.” “Tomava pílula regularmente e usava camisinha, mas engravidei.” “Estava grávida, mas não tive nenhum sintoma e só descobri na hora do parto.”

Envoltos em um tom “minha intenção é informar e não assustar”, relatos como estes costumam viralizar nas redes sociais e assustar mulheres que não querem engravidar.

Depois de atingirem milhares de compartilhamentos e likes, é comum que os depoimentos inundem as redes sociais de influenciadores como Maju Ferreira, 23. Com 125 mil seguidores no Instagram, ela usa a internet para esclarecer os medos e mitos que rondam o uso de anticoncepcionais.

Estudante de medicina, ela deixa claro no perfil das redes que está ali para criar “monstrinhas informadas” em relação à saúde feminina.

Um dos casos recentes que agitou suas redes foi quando a ex-BBB Viih Tube anunciou a gravidez e alegou que tomava pílula anticoncepcional regularmente. Alguns stories depois, ela esclareceu que, na verdade, a gestação ocorreu em meio a transição de método contraceptivo.

Logo depois do primeiro depoimento da influenciadora, as redes sociais de Maju já tinham diversos relatos de mulheres desesperadas em saber se também corriam o mesmo risco que Viih Tube.

“Meu intuito não é colocar alguém como mentiroso ou mal caráter. Quero chamar atenção para uma pauta maior”, diz ela, que comenta que, neste caso, a Viih Tube falou que achava que o medicamento não estava sendo efetivo por conta de alguns efeitos colaterais e suspeita que engravidou nas trocas.

“Provavelmente, foi o que aconteceu mesmo e, talvez, tenha faltado uma orientação mais específica sobre isso”, afirma a estudante. Ela relembra também que outro motivo de bafafá nas redes sociais foi a gestação da MC Loma, que disse ter tomado a pílula do dia seguinte.

“Eu falei para minhas seguidoras que não tem porquê se chocar com isso. É um método de emergência, não tem como cobrar de um método de emergência, que se usa quando tudo deu errado, que realmente vá funcionar em 100% dos casos.”

Em um dos posts recentes, ela explica que “a maior taxa de falha com o uso de anticoncepcional é por uso incorreto”.

Nele, Maju fala sobre os cuidados ao usar o medicamento. Por exemplo, explica que a primeira cartela deve ter início no primeiro dia de menstruação, alerta que é preciso repor o medicamento no caso de vômito em até quatro horas e também afirma que as pausas devem ser seguidas de acordo com os dias -informados na bula- e não de acordo com o sangramento.

O post teve diversos comentários como “se eu nunca engravidei foi por um milagre porque eu tomo errado o anticoncepcional”. Maju analisa que há uma defasagem no ensino básico da biologia. “Não adianta você dar o DIU ou o anticoncepcional e não explicar. Mas, é o que mais acontece”, diz ela.

Maju reafirma a importância de que a educação sexual seja disponibilizada de forma ampla para que os jovens entendam como se engravida e os perigos de manter relações sexuais sem proteção.

Outro assunto recorrente nas suas redes sociais é a tocofobia -medo excessivo de engravidar ou de parir. Maju relata que não se trata de um simples medo e que é importante não banalizar o termo, já que está inserido como um transtorno de ansiedade.

Ela ilustra o transtorno com o caso de uma seguidora que a procurou porque fez 17 testes de gravidez ao longo de três meses. Não satisfeita com o resultado negativo, decidiu fazer um exame de ultrassom. Ainda com medo, ela decidiu ficar nove meses sem relação sexual para ter certeza que não estava esperando um filho.

Algo semelhante aconteceu com a esteticista Ana Beatriz, 22. Quando deu início à vida sexual, ela afirma que passou a desenvolver a tocofobia. Com medo constante e frequente sensação de estar grávida, ela desenvolveu uma gravidez psicológica.

“O que piorava eram os relatos sensacionalistas da internet, de gravidez usando pílula e outros métodos contraceptivos”, lembra ela, que costumava fazer quatro testes de gravidez por mês e preencher testes online para verificar se estava grávida.

“Eu não acreditava nos resultados”, lembra. De família religiosa, em que o sexo sempre foi tabu, ela considera que isso contribuiu para a fobia. Ana relata que sentia um “medo irracional”. “O remédio para isso é informação. Precisei entender que a taxa de eficácia é muito maior que as falhas.”

Foi só após conhecer o conteúdo de Maju que ela conseguiu ter prazer nas relações sexuais. “Meu medo era tão grande que eu já começava a relação pensando no teste que ia comprar quando terminasse, mesmo me protegendo de todas as formas possíveis.”

Estudante de pedagogia, Gabriela Sales, 27, conta que seu medo ainda não passou e lida com a tocofobia, termo que leu pela primeira vez na conta do Instagram Diga Vulva, em que discute a educação menstrual.

Em meio à pandemia, com medo do que poderia acontecer, ela diz ter perdido a vontade de ser mãe e associa essa mudança ao desenvolvimento da tocofobia. “Isso mexe muito comigo. É difícil de lidar porque tem vezes que eu fico sem dormir com medo de não ter condições de criar uma criança.”

A psicóloga Lara Thayanne Leitão explica que o termo tocofobia ainda não é aceito por todos os profissionais da área da saúde. Enquanto uns categorizam como uma patologia, outros costumam refutá-lo e alegam que se trata de um medo comum e não uma fobia.

As primeiras pesquisas do termo são atribuídas ao medo do parto, desde o temor de sentir dor a falta de apoio e problemas socioeconômicos. Atualmente, é também associado ao medo irracional de engravidar.

A psicóloga considera que hoje há uma abertura para se dialogar mais sobre essa e outras fobias. “Hoje, não é obrigatório que uma mulher seja mãe. Esse medo de engravidar está presente nessas mudanças da sociedade. Temos também mais acesso a conteúdos relacionados à maternidade real, que mostram como a maternidade é desafiadora”, reflete.

À frente do Diga Vulva, Victoria De Castro, 27, é professora e bióloga e co-fundadora da escola de menstruação Herself Educacional. No perfil, ela diz que tem como objetivo tornar mulheres especialistas do próprio corpo.

Sobre a desinformação na internet, ela pondera que é comum que o extraordinário sempre viralize. Mas, ressalta que nota que a falta de informação relacionada à educação sexual e menstrual está presente em todas as classes sociais. “Por isso, são nas teclas do óbvio que a gente precisa ficar batendo o tempo todo.”

Fonte: Folhapress

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