João de Deus é condenado a 118 anos de prisão por crimes sexuais
O Tribunal de Justiça de Goiás condenou nesta sexta-feira (15) o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, a 118 anos, 6 meses e 15 dias de prisão, inicialmente em regime fechado, em três processos por crimes de estupro, violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável. A defesa afirma que pretende recorrer da decisão.
Com essas condenações do juiz Marcos Boechat Lopes Filho, da comarca de Abadiânia (GO), todas as 17 ações penais contra João Deus foram julgadas na primeira instância. O médium de 81 anos é acusado de abusar sexualmente de dezenas de mulheres durante supostos atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO).
Somadas, as penas chegam a 489 anos e 4 meses de reclusão. Ele foi preso em 2018 e atualmente cumpre pena em prisão domiciliar. Indenizações por danos morais às vítimas também foram incluídas nas sentenças, em valores que chegam a R$ 100 mil.
O advogado Anderson Van Gualberto de Mendonça diz que a defesa ainda não foi notificada.
“A defesa técnica ainda não foi intimada das sentenças. Caso essas novas decisões adotem a metodologia das anteriores estarão fadadas à reforma pelos tribunais superiores, uma vez que estão em desacordo com a nossa legislação penal, em assim sendo, a defesa aguardará ser intimada para recorrer”, afirmou o advogado.
De acordo com a Justiça de Goiás, os crimes cometidos por João de Deus que resultaram nas condenações desta sexta-feira envolvem 18 vítimas e aconteceram entre 2010 e 2017.
Ao todo, o médium foi denunciado por crimes praticados contra 66 vítimas e acabou condenado em 56 casos.
Os trabalhos do médium, que supostamente ofereciam cura, envolviam passes e cirurgias espirituais.
As denúncias contra ele surgiram em dezembro de 2018 no Conversa com Bial, da TV Globo. Após a veiculação do programa, mais denúncias sugiram.
Vítimas que procuraram João de Deus para atendimento espiritual disseram que tiveram partes íntimas do corpo tocadas pelo médium. Outras afirmaram que ele as teria obrigado a masturbá-lo ou a fazer sexo oral, sempre com o pretexto de estar realizando um trabalho de cura.
No decorrer das investigações, vítimas foram ouvidas por email, telefone e presencialmente por membros da força-tarefa instituída pela Promotoria de Goiás. Muitos casos ocorreram com pessoas que visitavam a cidade de Abadiânia e viviam fora do estado goiano.
O mais antigo relato de crime é de 1985. Segundo a Promotoria, mais de 20 de casos estavam prescritos quando as investigações começaram.
A holandesa Zahira Mous, uma das primeiras mulheres a denunciar publicamente os assédios, compartilhou nesta sexta-feira (15), em seu perfil no Instagram, a notícia da condenação de João de Deus. Apenas no caso de Zahira, ele recebeu uma sentença de 58 anos.
As sentenças contra João de Deus por estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude foram proferidas em grupos diferentes. A primeira foi em dezembro de 2019, por quatro estupros. Além dos crimes de abuso sexual, ele foi condenado a três anos de reclusão por posse irregular de arma de fogo.
De acordo com a Justiça goiana, seis apelações feitas pela defesa de João de Deus já foram analisadas e parcialmente providas. Duas dessas apelações estão em recurso no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e não foram julgadas.
Foto Stringer . / Reuters
Por Folhapress