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Moraes assume TSE após carreira centralizadora e ligada à política

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O estilo que alia centralização de atribuições, bom relacionamento com a política e fortes reações a críticas ou a ataques permeia a vida pública do ministro Alexandre de Moraes, que assume na próxima terça (16) a presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Moraes é personagem central no noticiário nacional dos últimos anos devido aos inquéritos sob sua responsabilidade que investigam o presidente Jair Bolsonaro (PL) e apoiadores, além de aliados do Planalto.

Mas ele já era conhecido muito antes disso. O atual ministro ascendeu na carreira ocupando diversas áreas de destaque das gestões de políticos de São Paulo.

Com isso, ganhou a confiança de alguns deles, mas se tornou desafeto de outros. Desde a primeira década do ano 2000, foi filiado ao DEM (atual União Brasil), MDB e PSDB.

Como secretário de Segurança Pública de São Paulo, em 2016, ficou à frente de uma questão sensível para o então vice-presidente Michel Temer (MDB): o hackeamento do celular da primeira-dama Marcela Temer.

Moraes atuou para que houvesse recursos policiais e discrição na ação que resultou na prisão do hacker. Quando Temer se tornou presidente da República, o secretário foi nomeado ministro da Justiça, já com a ambição de assumir uma vaga no Supremo Tribunal Federal.

Acabou indicado para o STF em 2017, após a morte do ministro Teori Zavascki em um acidente aéreo.

Desde a época de secretário em São Paulo, Moraes se queixa de ataques que sofreu por meio de notícias fraudulentas ou distorcidas.
Em 2015, ele obteve uma liminar na primeira instância da Justiça de São Paulo que determinava plataformas do Google e do Facebook a excluírem publicações que, erroneamente, o apontavam como “advogado do PCC”.

Como advogado, Moraes havia representado legalmente uma cooperativa de vans de São Paulo que, posteriormente, foi investigada por suposta ligação com o PCC.

A liminar foi o início de uma batalha judicial para que houvesse responsabilização de quem produziu e distribuiu as notícias falsas. “Criminosos sem dignidade, com finalidade politiqueira, continuam a espalhar absurdas mentiras, tentando vincular meu antigo escritório e meu nome ao PCC”, disse Moraes em 2017.

“A Justiça reconheceu o absurdo e determinou imediata retirada dos sites caluniosos. Lamentavelmente, criaram novos sites e blogs, sob o manto de covarde anonimato. Iremos atrás desses criminosos também.”

Depois, no STF e no TSE, o ministro passou a se notabilizar pelas decisões que determinam a remoção de conteúdo falso ou de ataque às instituições das plataformas digitais.

Foi a atuação nesses casos a responsável por aumentar a tensão entre Moraes e Bolsonaro, que já o criticou em público diversas vezes e chegou a pedir formalmente seu impeachment.

A escalada na crise entre os dois começou com as denúncias de ingerência de Bolsonaro na Polícia Federal e a decisão do ministro que barrou a nomeação de Alexandre Ramagem para comandar a Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

A situação piorou com a condução de Moraes do inquérito das fake news e das investigações sobre atos antidemocráticos e milícias digitais, além das apurações sobre os ataques ao sistema eleitoral.

É do caso das fake news uma decisão polêmica e que gerou críticas para Moraes. Ele mandou a revista Crusoé retirar do ar uma reportagem que ligava o também ministro Dias Toffoli ao empresário e delator Marcelo Odebrecht. Após reação de juristas, entidades de jornalismo e de ministros do Supremo, Moraes revogou a própria decisão.

Ao assumir as apurações contra aliados do Planalto, Moraes chegou no início a escolher até os delegados que participariam das investigações. Também passou a dar decisões, muitas vezes de ofício, sem consultar o Ministério Público.

Aliados de Bolsonaro, no entanto, esperam uma relação menos conflituosa entre Moraes e o Planalto daqui para frente. Um primeiro sinal de uma possível trégua ocorreu na quarta (10), quando o próprio presidente disse ao ministro que pretende comparecer à posse do novo comando do TSE.

O modo centralizador e duro na condução dos casos, segundo colegas do Ministério Público de São Paulo, é o perfil conhecido de Moraes desde a época em que ele exerceu o ofício de promotor de Justiça, entre 1991 e 2002.

Moraes deixou o MP de São Paulo para se tornar secretário de Justiça do governo Geraldo Alckmin (então no PSDB).

Em 2005, acumulou a pasta da Justiça com a presidência da antiga Febem, atual Fundação Casa, ainda na gestão Alckmin.

Apesar de ter problemas com demissões que se converteram em passivo trabalhista na gestão tucana, ele se cacifou para virar o homem forte da administração de Gilberto Kassab (à época no DEM) na Prefeitura de São Paulo, quando ficou conhecido por assumir concomitantemente órgãos e secretarias.

Era chamado de “supersecretário” de Kassab, à frente das secretarias de Transportes e Serviços, além de ser presidente da CET (Companhia de Engenharia e Tráfego) e da SPTrans. Deixou os cargos de forma prematura em 2010, após desavenças com o então prefeito.

Voltou ao governo Alckmin em 2015, agora no comando da Segurança Pública, onde tratou do caso que envolveu o celular de Marcela Temer. Um homem clonou o aparelho, acessou os dados e pediu dinheiro para não espalhar as informações.

O homem acabou preso cerca de 40 dias depois.
À época da sua gestão à frente da Segurança Pública, ele chegou a ser questionado a respeito dos dados das estatísticas oficiais de violência do estado. Em um evento na Assembleia Legislativa de São Paulo, bateu boca com um deputado estadual do PT que disse que o governo fazia maquiagem dos dados.

“Vossa excelência fala que os números são maquiados aproveitando-se da sua imunidade material parlamentar. Porque, se não tivesse, seria processado por falar tamanha besteira”, reagiu Moraes à época.
Como ministro da Justiça, teve que lidar com as rebeliões em presídios que mataram ao menos 56 detentos Complexo Penitenciário Anísio Jobim, no Amazonas, e outros 33 na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Roraima.

Um episódio também ficou marcado na sua passagem pela Justiça. Em Ribeirão Preto (SP), durante evento de campanha do então candidato a prefeito Duarte Nogueira (PSDB), Moraes sinalizou que uma nova fase da Lava Jato seria deflagrada na mesma semana semana. No dia seguinte, foi deflagrada a 35ª fase da operação, intitulada Omertà.

À época, a PF disse em nota que não alertou Ministério da Justiça sobre aquela fase da Lava Jato. “Como já foi amplamente demonstrado em ocasiões anteriores, o Ministério da Justiça não é avisado com antecedência sobre operações especiais”, dizia a nota da corporação.

Por Folhapress

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